Tecnologia

O que é feito da maçã de Steve Jobs depois da morte do génio?

As ações começaram a cair e só não arrastaram o que não podiam. O impacto fez-se sentir um pouco por todo o mundo e foi suficiente para fazer com que a empresa perdesse o lugar de maior cotada. Os novos iPhones não convencem como antes e há quem diga que a empresa tem vindo a perder a “simplicidade”

As ações da Apple caíram e arrastaram tudo o que podiam. Face à informação de que a empresa se viu obrigada a cortar na produção de novos iPhones, as ações entraram em queda livre e têm pressionado as bolsas mundiais. A estes receios dos investidores somaram-se os resultados da empresa até setembro. Só até dia 27 do mês passado, as sucessivas quedas conseguiram roubar mais de 180 mil milhões de dólares à empresa, abrindo espaço para que a Microsoft chegasse à liderança na lista das maiores cotadas do mundo.

Os tempos gloriosos da Apple já não são o que eram e a verdade é que a guerra dos dois nomes fortes da tecnologia tem agora um novo vencedor. A 2 de agosto, a empresa de Steve Jobs fez história e conseguiu ser a primeira a atingir uma cotação acima de um bilião de dólares, uma posição isolada nos EUA que acabou por não ser ocupada pela Apple durante muito tempo. Tudo porque a Amazon quis repetir a proeza e, poucos dias depois, conseguia a avaliação dos sonhos de qualquer empresa.

A festa do “trillion-dollar baby” por parte da empresa da maçã não demorou até ser abalada pela instabilidade do mercado e pela reação dos investidores à apresentação dos fracos números de venda dos iPhones que levou a Apple a bater um mínimo histórico de 233,47 dólares por ação. No pódio das três empresas mais valiosas encontravam-se então a Apple, a Amazon e a Microsoft.

Além das tensões comerciais entre a China e os EUA, que levaram à cautela dos investidores em todas as empresas, no início do mês passado, a Apple voltou a apresentar resultados e previsões que indicavam um último trimestre aquém das expetativas. A empresa, que desde outubro já tinha as ações desvalorizadas em cerca de 27%, caiu na passada terça–feira e foi então a vez de Bill Gates ver a sua empresa ocupar o trono da mais valiosa do mundo, algo que já não acontecia desde 2010. Desde então, o pódio tem vindo a ser bastante disputado e a proximidade entre as duas dá a entender que a guerra não vai ficar por aqui.

 

Maçã deixou de convencer

A deceção com o iPhone X obrigou a Apple a criar uma saída de emergência. Para compensar a desilusão dos clientes em relação ao modelo que tanto prometia, a gigante tecnológica decidiu então lançar, ainda este ano, um trio de novos telemóveis: o maior iPhone de sempre, um modelo low-cost e ainda um upgrade do iPhone X. No entanto, esta solução parece não estar a ser suficiente. Vários analistas continuam a destacar a falta de procura do iPhone e há cada vez mais fornecedores a fazer contas.

Não se podia ainda adivinhar quais seriam os resultados da empresa até setembro mas, em abril, já se sabia que as contas poderiam ter de ser feitas várias vezes. A AMS, fabricante de sensores óticos para telemóveis, por exemplo, foi obrigada a rever em baixa, logo no início do ano, as expetativas das receitas. De acordo com a Bloomberg, as receitas esperadas rondavam os 307,9 milhões de dólares. No entanto, o alerta da empresa apontava para um número muito menor: 220 milhões de dólares. Também a empresa que fornece chips à Apple, a Taiwan Semiconductor, se preparou para apresentar receitas muito abaixo do que foi inicialmente estimado.

 

Reputação em risco

Quando o Reputation Institute elaborou, no início do ano, o ranking das 100 empresas mais respeitadas na América, a surpresa não podia ser maior. A queda mais acentuada nesta tabela aconteceu com as tecnológicas. A falta de confiança na tecnologia, como explica Brad Hecht, diretor administrativo do instituto, justifica estas perdas de reputação. A Apple e o Facebook deixaram mesmo de constar da lista de 100 posições.

No caso destas últimas empresas, são os escândalos que mais justificam que tenham perdido o respeito dos consumidores em geral. O Facebook tem sido alvo de duras críticas por irregularidades no uso dos dados pessoais dos utilizadores. A Apple perdeu por ter estado envolvida em investigações relacionadas com evasão fiscal.

 

O que é feito da maçã de Jobs?

Recorde-se que, já em 2016, muitos consideravam que a morte de Steve Jobs podia ter afetado a marca da maçã mais do que se esperava. Ken Segall, que trabalhou com Jobs como diretor criativo de publicidade durante 12 anos, escreveu, numa coluna do “Guardian”, que a ausência de Steve Jobs fez com que a Apple perdesse “o rumo”. E a verdade é que nos últimos anos, ainda que os lucros sejam sólidos, a marca tem vindo a perder quota de mercado para o Android – até porque, enquanto as concorrentes invadem o mercado com smartphones de baixo custo, a Apple continua a apostar na qualidade em troca de um preço também muito mais alto. Segundo as estimativas dos analistas, em 2015, 80% dos consumidores não tinham capacidade económica para adquirir smartphones com preços tão elevados.

Conhecido como sendo um génio, Jobs marcou, segundo os amigos mais próximos, toda a história da Apple com a sua obsessão pela qualidade e pelos detalhes. Mas o que aconteceu à marca desde então? Muitos são os que questionam o caminho que a empresa tem vindo a fazer desde a morte de Steve Jobs e há quem continue a reconhecer a falta que faz.

Ken Segall chegou mesmo a afirmar que a Apple tem vindo a perder “o poder da simplicidade”. “Agora, a Apple vende três iPhones diferentes, quatro iPads diferentes e três MacBooks diferentes. O Apple Watch tem infinitas combinações de tamanhos e braceletes. O universo da Apple está muito complexo”, começou por dizer, lançando uma verdadeira discussão sobre a estratégia que tem vindo a ser seguida pelo gigante tecnológico.

Enquanto muitos se apressaram a defender que a decisão de introduzir mais dispositivos no mercado serve o objetivo de aumentar a faturação, Segall garante que “existem problemas que precisam de soluções, tais como os processos internos que permitiram que produtos complicados chegassem às mãos dos consumidores”.

Tim Cook, CEO da empresa, foi escolhido por Jobs para o lugar. E muitos defendem que tem feito um bom trabalho. No entanto, uma coisa também fica clara para alguns, nomeadamente para Ken Segall: há uma coisa que nunca ninguém vai conseguir fazer. “Steve Jobs não pode ser substituído.” E a verdade é que nos últimos anos, ainda que os lucros sejam sólidos, a marca tem vindo a perder quota de mercado para o Android.

Origem
Jornal i
Mostrar Mais

Artigos relacionados

Botão Voltar ao Topo