Sociedade

Medos. Uma viagem pelo mundo das fobias

Jornali

O “Pequeno Livro das Grandes Fobias”, que irá para as bancas já amanhã, foi escrito pela jornalista Joana Marques Alves a convite da editora Saída de Emergência, na sequência de um trabalho feito para o i sobre fobias. A obra relata histórias de pessoas que convivem diariamente com os seus medos e a forma como enfrentam as suas fobias, cada uma mais bizarras que outra. O i reuniu algumas das histórias sobre fobias.

Onfalofobia. Desconforto ao tocar/ver umbigos

Há quem tenha medo de cães e gatos, aranhas ou até mesmo alturas, mas André sofre de algo bastante mais bizarro: onfalofobia. Esta é a palavra utilizada para descrever alguém que se sente nervoso ou enojado só de pensar na possibilidade de tocar num umbigo. À partida, pode parecer estranho, porque o umbigo faz parte do nosso corpo e é inevitável não lhe tocarmos – nem que seja quando tomamos banho – mas desde a adolescência que André se sente desconfortável ao imaginar ou ver alguém tocar nessa parte do corpo.

“Se me tocassem no umbigo acho que morria”, confessa. No entanto, não é só na vida real que a ideia o deixa desconfortável: André já sonhou com esse problema e acordou sobressaltado e com medo. “Já sonhei várias vezes que estava amarrado a uma cama e alguém me tocava insistentemente no umbigo. Acordo a meio da noite assustado”. O medo não é de ver umbigos, o seu problema é mesmo tocar nessa parte do corpo: “Eu não tenho qualquer problema em ver o meu umbigo, nem em ver umbigos no geral. O meu problema é só mesmo o toque”.

Acondroplasiafobia. Medo de anões

“Os homens não se medem aos palmos”, reza o ditado, numa espécie de apologia dos homens baixos e de lição: não é a altura que determina a coragem, a ousadia ou até a força. No entanto, para Duarte os homens medem-se mesmo aos palmos. Duarte sofre de acondroplasiafobia, isto é, tem fobia a anões. Este medo, nunca o soube definir muito bem: por um lado sentia repulsa pela constituição física, mas por outro sentia-se nervoso na presença de um anão. “Estes sentimentos deixam-me, obviamente, muito desconfortável, uma vez que não gosto de os sentir comparativamente com outros seres humanos. Gosto da diferença, não me considero intolerante, mas neste caso a reação é essencialmente física e, portanto, incontrolável”. Sem aparente explicação para este medo, o problema sobretudo com a presença de anões ao vivo: vê-los no ecrã da TV não lhe faz particular confusão.

Globofobia. Medo de balões

No nosso dia-a-dia estamos rodeados de objetos a que atribuimos alguma conotação e sentido. Os objetos são muitas vezes associados a momentos tristes ou felizes e dentro da pequena bolha em que vivemos protegidos é quase impossível pensarmos que o que pode deixar uns felizes, para outros é capaz de criar um sentimento de ansiedade.

É o caso de Susana, que começa a sentir uma nervoso miudinho sempre que está perto de balões. O que para nós é apenas um elemento decorativo de uma festa e sinónimo de bricadeira, para Susana é um pesadelo, e sofre com isto desde criança. “Tenho esta fobia desde criança e tem vindo a diminuir ao longo dos anos. Penso que foi desencadeada pelo meu irmão mais velho, que tinha o hábito de rebentar balões literalmente na minha cara. O som do balão a rebentar é o que me causa mais impressão. Hoje em dia, essa fobia já se dissipou – até porque tenho sobrinhos e isso é sinónimo de festas. Tive de aprender a ultrapassar este medo”.

GPS. Amigo ou inimigo?

Todos temos medo do desconhecido, mas uns são mais destemidos que outros. E a verdade é que hoje em dia a vida é muito mais fácil graças ao GPS, um auxílio precioso para distraídos ou aventureiros. Esse não é o caso de Catarina (nome fictício), que não confia no GPS. O medo de perder-se é tão grande que não vai sozinha para nenhum sítio que não conheça. Quando o fez, a experiência não correu nada bem. “Ninguém gosta de se perder, isso é normal. Mas no meu caso tenho noção de que tenho uma reação extrema. Não sei como é que surgiu este problema, mas desde que me lembro não consigo ir sozinha a sítios desconhecidos. É impensável”.

Não sabe de onde vem este medo irracional, mas a sua vida é especialmente afetada por esta fobia. Já se viu obrigada a desmarcar jantares com amigos por serem em sítios que desconhecia, a chamar a sua mãe para ir a determinado lugar porque não era capaz de o fazer sozinha e a reorganizar a sua agenda para apanhar boleia, só para não ir sozinha a um lugar onde nunca tinha estado.

Talassofobia. Medo do mar

Verão, praia, areia e mar são palavras que fazem muitos querer saltar da cadeira e pegar na chave do carro. Ficar sentado à beira mar, a ver o pôr do sol e a ouvir o som das ondas a bater nas rochas é, para a maioria das pessoas, a ideia do plano perfeito para escapar ao stresse do dia-a-dia. Mas, para Carlos (nome fictício), esse cenário está longe de ser uma opção. A verdade é que Carlos sofre de talassofobia, ou seja, tem medo do mar. O mais curioso é que vem de uma família muito ligada ao mar, de pescadores e surfistas, e até aos seus 10 anos sempre brincou na água, mas de repente tudo deu uma volta de 360º e a realidade passou a ser outra.

“Estava numa praia na zona de Sintra a brincar à beira-mar com a minha irmã, como fazíamos sempre, quando fomos arrastados pela corrente muito forte. Além de ser puxado, parecia que estava também a ser empurrado para debaixo de água”. Sem conseguir voltar à superfície, entrou em pânico, mas acabou por ser salvo pelo seu pai. “Esse foi o primeiro dia de uma vida afastada das ondas”: desde então nunca mais entrou no mar e nem a ponta dos pés se atreve a molhar.

Caveiras. Assustadoras ou elementos de decoração?

Todos sabemos que as caveiras são um símbolo que surge maioritariamente ligado à morte. E a morte é um dos maiores receios do ser humano.

Há, por isso, quem tenha um medo inexplicável de elementos e símbolos relacionados com a morte. É o caso de Isabel, que apesar de não saber de onde vem este pavor, desde criança sempre teve fobia a caveiras. “Quando era pequena, assustava-me com todas as coisas que tinham que ver com caveiras”, confessa, acrescentando que uma vez chegou “mesmo a ir parar ao hospital com taquicardia” depois de um dos seus irmãos ter trazido para casa uma caveira de borracha que quando era apertada abria a boca. Durante toda a sua vida Isabel lutou, e continua a lutar, contra este medo: nas aulas de ciências, por exemplo, quando estudava o esqueleto humano. E até mesmo a ver televisão, basta aparecer uma caveira para Isabel deixar logo de ver o programa.

“Esta é uma fobia parva, algo que nunca me larga. Vou ter de a trazer comigo toda a vida… Felizmente, consigo disfarçá-la bem”.

Joana Marques Alves, Jornalista, Lisboa, 2018 – “A verdade é que tenho uma fobia. E a minha história está no livro”

Qual é o teu maior medo?

A verdade é que eu tenho uma fobia. E a minha história está no livro. Mas pus um nome fictício e vou continuar sem dizer qual é. Acho que as pessoas devem tentar lidar com este problema, mas sendo a autora do livro não me quis expor dessa maneira.

Ficaste surpreendida com a quantidade de fobias que existem? 

Completamente. Não estava à espera que existissem fobias a caveiras, a botões… Mas, do que aprendi com este projeto, tudo pode dar origem a um medo irracional.

Qual foi a história que mais te surpreendeu? 

A história dos umbigos surpreendeu-me muito. E a da senhora que ficou meses sem sair de casa por sofrer de agorafobia. São casos que têm um grande impacto.

Qual foi a maior dificuldade que sentiste a escrever o livro? 

Conseguir conciliar a escrita com o emprego – nesta profissão temos uns horários difíceis, ainda para mais se estivermos com trabalhos que exigem mais de nós – e, no meio destas rotinas loucas, conseguir arranjar vários casos. Mas, graças às redes sociais, esta parte acabou por ser facilmente ultrapassada.

Que expectativas tens relativamente à recetividade por parte das pessoas? 

Acho que as pessoas vão gostar do tema e vão querer comprar. Toda a gente conhece alguém que tem uma fobia, é um tema comum nas conversas de amigos. Até podem comprá-lo e oferecer a alguém com uma fobia, como brincadeira.

Achas que o livro vai tornar-se um bestseller? 

(Risos) Não tenho essas ambições! Acho que não, mas sinceramente não penso nisso.

É a tua primeira publicação. Como te sentes com o livro a ir para as bancas já amanhã? 

Muito nervosa (risos). Mas contente com o resultado final.

Quando podemos esperar por um novo livro teu?

Não faço ideia, ainda estou a falar com a editora sobre umas ideias. Mas nada de concreto.

639891 Medos. Uma viagem pelo mundo das fobias

“O Pequeno Livro das Grandes Fobias”, de Joana Marques Alves

Preço: 15,50€

Origem
Jornal i
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