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Bebés geneticamente manipulados. Cientistas suspeitam que intervenção para tornar Lulu e Nana imunes ao VIH falhou e criou alterações imprevisíveis nas gémeas

Em 2018, o cientista chinês He Jiankui anunciou ao mundo que ajudou a criar os primeiros bebés geneticamente manipulados, gémeas cujo ADN foi alterado para tentar criar uma capacidade de resistência a uma possível infeção futura de VIH-Sida.

Tudo foi feito em segredo. O caso remonta a 2018, altura em que He Jiankui (na fotografia) contou a um dos organizadores de uma conferência internacional sobre manipulação de genes, em Hong Kong, que alterou embriões durante os tratamentos de fertilidade de sete casais, tendo resultado numa gravidez. O objetivo do cientista com esta experiência, não era curar ou prevenir uma doença hereditária, mas tentar criar uma capacidade de resistência a uma possível infeção futura de VIH-Sida.

Dado o secretismo da iniciativa, não houve confirmação independente da reivindicação de He Jiankui, que tão pouco foi publicada ou examinada por outros especialistas. Além disso, o cientista manteve em sigilo a identificação dos pais ou o local onde a experiência foi realizada.

Foram várias as críticas que surgiram por parte da comunidade científica internacional à experiência, da qual He Jiankui se disse orgulhoso.

Suspeita-se agora, após a publicação de uma versão não divulgada do estudo que detalha a experiência, que as gémeas chinesas nascidas em 2018 de embriões modificados geneticamente — Lulu e Nana, os seus nomes é tudo o que se conhece — tenham mutações imprevistas no seu genoma, resultantes da sua manipulação, o que pode ter consequências imprevisíveis.

Além disso, o texto do estudo confirma o que muitos especialistas suspeitavam: na verdade, demonstra que a mutação tentada, em parte do gene CCR5, não teve êxito, segundo os geneticistas consultados. O estudo diz que a mutação realizada é “similar” à que confere a imunidade, mas não idêntica.

Um jornalista da revista MIT Technology Review recebeu o manuscrito do estudo que o cientista chinês tentou fazer publicar por revistas científicas prestigiosas e que detalha o método e os resultados obtidos.

“Crispr” é uma técnica revolucionária de modificação do genoma inventada em 2012, muito mais simples do que tecnologias anteriores, mas que está longe de ser perfeita para ser usada com fins terapêuticos.

“Há muitos problemas no caso das gémeas Crispr”, diz o professor de genética Kiran Musunuru, da Universidade da Pensilvânia, em entrevista recente à AFP. “Todos os princípios étnicos estabelecidos foram afetados, mas também há um grande problema científico: não se controlou o que fazia a Crispr e isto teve muitas consequências imprevistas”.

Origem
Sapo24
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