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Discreto, confidencial e informal. 110 bispos juntam-se em Sintra convocados por críticos do Papa

Discreto, confidencial, reservado, familiar, informal. Foi com estas palavras que vários intervenientes relativizaram, ao 7MARGENS, a importância do encontro que decorreu no hotel Penha Longa (Sintra), entre 22 e 25 de Janeiro, e que reuniu 110 bispos católicos de 42 países.

O encontro foi promovido pelo Acton Institute for the Study of Religion and Liberty (Instituto Acton para o Estudo da Religião e a Liberdade), dos Estados Unidos. A instituição é muito crítica das ideias do Papa Francisco no campo da ecologia e da economia, considerando-o incompetente para se pronunciar sobre matérias económicas ou ecológicas [ver outro texto sobre o Acton aqui].

No encontro participaram três cardeais: Berhaneyesus Souraphiel, arcebispo de Adis Abeba (Etiópia); um mexicano – talvez Robles Ortega, arcebispo de Guadalajara; e um terceiro. Mas os participantes contactados pelo 7MARGENS não confirmaram o nome nem a nacionalidade destes dois últimos.

Um dos participantes insistiu no carácter discreto e “informal” do encontro, que não tinha temas, mas pretendia apenas que os bispos pudessem encontrar-se e conversar. Mas, entre os participantes com quem o 7MARGENS falou para confirmar alguns pormenores, houve quem dissesse que se tratou de um encontro de “estudo, discussão e partilha de experiências”. E, ainda, quem tenha adiantado o tema: “Fé, razão e justiça social”.

E o que cabe neste tema tão vasto? “Os desequilíbrios socioeconómicos e demográficos e o papel da fé na construção da justiça social”. Ou seja, “o défice de ética” no mundo actual, que leva à “corrupção, injustiça e desigualdades”.

Sejamos ainda mais concretos, na expressão de um dos participantes, um bispo africano: “É preciso formar as famílias, por causa da tendência para a diminuição no número de filhos. No Ocidente, há cada vez mais famílias sem filhos e com animais de estimação e a família está a desaparecer; na Ásia, as famílias estão cada vez mais envelhecidas; e em África, a tendência também é para que se reduza o número de filhos”, antecipam os estudos sobre o que acontecerá daqui a 50 anos, assegura.

Ninguém de Portugal, apesar dos convites

A parte mais importante dos participantes era oriunda da América Latina, a que se seguiam africanos e asiáticos; em menor número, estavam os europeus e norte-americanos. Estados Unidos, Chile, México, Angola, Etiópia, Paquistão e vários do Médio Oriente estavam entre os países representados. De Portugal, por aquilo que até agora foi possível apurar, não esteve nenhum bispo.

O cardeal-patriarca de Lisboa, entretanto, foi convidado a passar no encontro. Mas, como estava a regressar de uma reunião de bispos lusófonos na Guiné-Bissau, essa sim tornada pública, Manuel Clemente apenas “enviou uma mensagem”, disse um dos participantes ao 7MARGENS. Mas o patriarcado desmente: o patriarca esteve no encontro do ano passado, mas então não fez qualquer intervenção e este ano não enviou nenhuma saudação, assegurou fonte oficial da diocese de Lisboa.

O núncio apostólico (embaixador da Santa Sé) em Portugal, Ivo Scapolo, não esteve presente, mas encontrou-se com os bispos chilenos que participaram no encontro. Scapolo, que veio para Portugal depois de ter desempenhado no Chile um papel considerado por muitos, no mínimo, pouco claro em relação ao tema dos abusos sexuais, terá deixado saudades em alguns dos membros do episcopado chileno.

Uma peregrinação escondida a Fátima

Os 110 bispos estiveram reunidos na Penha Longa entre a tarde de quarta-feira, 22, e a manhã de sábado, 25. No sábado, houve ainda quem almoçasse no hotel, mas outros já tinham saído – e alguns ficaram ainda hospedados em Lisboa mais algum tempo.

Na terça-feira, 21, um grupo foi a Fátima – ainda havia pessoas a chegar, nem todos se deslocaram ao santuário. Mas, mais uma vez, a discrição e o secretismo foi, também aqui, a palavra de ordem. No santuário, a passagem do grupo não foi anunciada nem conhecida.

Também houve bispos que se deslocaram a Fátima no domingo, 26. Um deles concelebrou numa das eucaristias do final da manhã mas, pelo menos nos serviços do santuário, não se fez registar.

Todos os diferentes interlocutores do 7MARGENS insistem no carácter “reservado”, “confidencial” ou “discreto” da iniciativa. Mas sem avançarem razões justificativas para tanto segredo, apenas repetindo que os organizadores assim o pediram. Sabendo do encontro, apareceriam logo jornalistas, justifica um dos participantes. Sábado, 25, por telefone, o 7MARGENS procurou falar com um dos bispos ainda na Penha Longa, mas o funcionário que atendeu disse que a resposta à pergunta sobre se o bispo em causa ainda estaria no hotel ou se a reunião já teria terminado era… “confidencial”!

Sobra, então, a pergunta sobre a razão de tanta discrição. Por correio electrónico, o 7MARGENS dirigiu ao director de comunicação do Acton, Eric Kohn, várias perguntas – sobre os países representados, a eventual presença de portugueses e o carácter reservado da iniciativa. As perguntas seguiram segunda-feira de manhã (madrugada no estado do Michigan, EUA, onde o Acton tem sede), mas não houve qualquer resposta durante o dia.

Um artigo do parceiro

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