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Em 2025 haverá mais bebés com problemas de coração e a culpa é do clima

Conclusão é de um estudo baseado em projeções climáticas para o território norte-americano. Entre 2025 e 2035 podem vir a nascer mais sete mil bebés com malformações cardíacas, afirmam os investigadores. A culpa é do calor extremo provocado pelas alterações climáticas – e esse, de acordo com projeções feitas por cá, também vai afetar Portugal

Calotas polares a derreter – quem nunca viu a já clássica imagem do urso polar numa camada de gelo, cercado de água? –, calor intenso – na Austrália, os termómetros estão a marcar perto de 50 oC – e frio gelado – nos Estados Unidos registam-se por estes dias temperaturas negativas. Para os negacionistas, estes são apenas episódios isolados e não consequências das alterações climáticas, mas a verdade é que a lista continua a aumentar: agora, um grupo de investigadores concluiu que os fenómenos de calor extremo podem vir a significar um aumento do número de bebés que nascem com malformações cardíacas.

O estudo, publicado na revista científica “Journal of The American Heart Association”, na semana passada, e que cinge a análise ao território norte-americano, dá conta de que o efeito do calor extremo resultante das alterações climáticas na saúde dos recém-nascidos será visível já a partir de 2025. Os números apontam para um futuro pouco animador: as antevisões mostram que, entre 2025 e 2035, podem registar-se sete mil casos de malformações cardíacas a mais do que o normal, resultado da sujeição das mães a temperaturas elevadas. Os casos vão ocorrer, na sua maioria, no Midwest – onde se localizam os estados de Illinois e Michigan, por exemplo –, a região a registar um aumento mais significativo, seguido do Nordeste – onde se inserem estados como Nova Iorque ou Connecticut – e do sul do país – que inclui a Florida e o Texas, entre outros. Contudo, os investigadores deixam o alerta: “As nossas estimativas sugerem aumentos a nível nacional na exposição materna ao calor no início da gravidez por todo o país em 2030”, lê-se no artigo científico.

“As nossas descobertas sublinham o impacto alarmante das alterações climáticas na saúde humana e realçam a necessidade de uma maior preparação para lidar com o aumento antecipado de uma condição complexa que frequentemente requer cuidados e acompanhamento ao longo de toda a vida”, assinala a investigadora Shao Lin, da University at Albany – State University of New York, em comunicado. “Apesar de este estudo ser preliminar, seria prudente para mulheres nas primeiras semanas de gravidez evitarem o calor extremo, tal como se aconselha o mesmo a pessoas com doença cardiovascular e pulmonar durante crises de coração”, disse ainda, acrescentando que o conselho é especialmente dirigido às mulheres que estão a tentar engravidar e àquelas que contam já com uma gestação entre três e oito semanas. Como se lê no estudo, não se sabe ao certo qual a ligação entre temperaturas elevadas e problemas cardíacos congénitos, mas estudos feitos em animais mostram que o calor pode causar morte celular no feto, entre outros impactos.

Mas como é que os investigadores chegaram a tais conclusões? Recorreram a previsões de alterações climáticas da NASA e do Goddard Institute for Space Studies e, a partir daí, simularam a mudança das temperaturas máximas diárias em diferentes regiões do país, calculando depois o calor e o número de eventos extremos de calor aos quais as grávidas estariam expostas na primavera e no verão. Cruzaram depois esses dados com outros do “National Birth Defects Prevention Study”, uma análise feita a nível nacional.

A mesma equipa de investigadores, de resto, já tinha concluído num outro estudo, publicado em setembro de 2018 na “Environment International”, que existe um risco acrescido de malformações cardíacas congénitas em bebés cujas mães estiveram expostas a temperaturas elevadas durante a gravidez.

As alterações climáticas em Portugal É certo que o enfoque do estudo é o território norte-americano, mas as alterações climáticas ultrapassam fronteiras e Portugal não lhes passa ao lado. Em entrevista ao i em agosto de 2018, o especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos dizia que o país “já está a sofrer” efeitos dessas alterações, dando conta, por exemplo, “da subida do nível médio do mar”.

Por cá, de resto, existem vários estudos de projeções climáticas que dão conta das tendências e cenários climáticos a esperar em Portugal. O site da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) refere três iniciativas que já se debruçaram sobre a temática e, de acordo com os projetos Climate Change in Portugal – Scenarios, Impacts and Adaptation Measures (SIAM), SIAM ii e Clima e Meteorologia dos Arquipélagos Atlânticos (CLIMAAT), prevê-se o “aumento significativo da temperatura média em todas as regiões de Portugal até ao fim do séc. xxi”, bem como o “aumento da temperatura máxima no verão, no Continente, entre 3 oC na zona costeira e 7 oC no interior, acompanhados por um incremento da frequência e intensidade de ondas de calor”. É possível, por isso, concluir que a tendência de aumento de malformações cardíacas em bebés nascidos nos Estados Unidos pode vir a verificar-se também por cá, bem como noutros países onde se registe um aumento da temperatura e de ondas de calor.

A gravidez e o calor Engravidar no verão apresenta uma série de desvantagens em relação a fazê-lo em períodos com temperaturas baixas: as mulheres sente-se mais cansadas, têm mais tendência a sentir falta de ar e o corpo incha mais facilmente. É, no geral, mais desconfortável.

Mas a verdade é que as desvantagens podem assumir contornos mais sérios: num outro estudo, publicado na revista científica “Environmental Health Perspectives”, investigadores concluíram que o calor excessivo pode ter consequências na duração da gravidez, encurtando-a. O estudo saiu em 2011 e baseia-se numa amostra de 7585 partos ocorridos entre janeiro de 2001 e junho de 2005 no Hospital Clínic de Barcelona.

Origem
Jornal i
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