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Prevenção de fogos: eu é que sou o “oficial de segurança” da minha aldeia

Diario Noticias

O governo apresenta esta segunda-feira o plano para treinar as populações contra os fogos, numa aldeia onde não há memória de incêndios

Chama-se Silvério Teixeira, tem 61 anos e é um subchefe da PSP aposentado. A partir de hoje é o primeiro “oficial de segurança da aldeia” (OSA) em todo o país. É uma nova função, em regime de voluntariado, criada pelo governo no âmbito de dois novos programas de segurança das populações contra incêndios florestais – “Pessoas Seguras” e “Aldeias Seguras”.

O perfil do OSA definido pela Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), segundo fonte do comando, é “alguém escolhido pela comunidade, com capacidade de liderança, com conhecimentos de segurança, principalmente na vertente safety e que seja respeitado pela população, para que sigam as suas orientações”. Os OSA têm ainda como tarefas transmitir avisos à população, organizar a evacuação do aglomerado, em caso de necessidade e fazer ações de sensibilização junto às populações, para que saibam como evitar comportamentos de risco.

A aldeia onde será lançada esta manhã a primeira pedra do projeto inédito no nosso país é Vale Florido, na freguesia de Alvorges, cuja junta é do PS, no concelho de Ansião, igualmente socialista. Curiosidade: é a terra onde viveu com os seus pais o escritor Fernando Namora. Tem pouco mais de 100 habitantes e, como contou ao DN um dos moradores, dono de um café e de uma casa de turismo rural, Adail Luís, tem sido poupada a fogos. “A nossa freguesia tem sido muito privilegiada. Tenho 53 anos e não me lembro de ter havido aqui nenhum incêndio”, reconhece.

Silvério confirma que “apesar de há uns anos andarem fogos aqui perto, felizmente nenhum atingiu a aldeia”. E dá a sua explicação que serve, no seu entender, para justificar a escolha de Vale Florido para a cerimónia oficial: “ainda se cultivam muitas terras à volta das casas e os terrenos em redor da aldeia estão libertos de árvores”.

Silvério Teixeira está “orgulhoso” da sua nova missão. Desde que deixou a polícia, o ex-PSP voltou a envolver-se nas atividades da aldeia e é atualmente o tesoureiro da Associação Recreativa e Cultural de Vale Florido, presidida, por sinal, por um reformado da GNR.

Esta segunda-feira será o “guia” da comitiva governamental e vai mostrar como Vale Florido está preparada. Seguindo as instruções do programa da ANPC, já tem definido e devidamente sinalizado o “local de refúgio” (junto à Associação Recreativa) para onde a população se deve abrigar se as chamas ameaçarem a aldeia algum dia.

O OSA de Vale Florido acredita que os seus habitantes, a maior parte idosos, estão empenhados. Conta que “pelo menos 40” estejam presentes no “simulacro” de hoje. “À hora que está marcado (11.30), as pessoas que trabalham não podem comparecer”, justifica.

Fonte oficial do gabinete do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, promete uma “campanha a nível nacional para passar nas rádios, televisões, jornais e redes sociais, sobre medidas de autoproteção, com início previsto para maio”. Os programas “Aldeia Segura” e “Pessoas Seguras” são destinados a todo o país, mas têm como principal alvo os 189 municípios onde estão localizadas as freguesias de risco no âmbito da defesa da floresta contra incêndios. Assentam em três pontos: gestão de combustível, plano de evacuação das aldeias e campanha de sensibilização.

Estes planos, segundo a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), “criados pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 157-A/2017 de 21 de outubro, visam reforçar a segurança das populações face ao risco de incêndio florestal, apoiando o poder local na implementação de estratégias de proteção de aglomerados populacionais face a incêndios rurais, em especial os localizados na interface urbano-florestal”.

Vale Florido será ainda palco da assinatura de um protocolo entre a ANPC, a Associação Nacional de Municípios Portugueses e a Associação Nacional de Freguesias para envolver as autarquias neste plano. O governo tem previsto que durante este mês “seja feito o trabalho de organização dos programas pela ANPC com as autarquias e juntas de freguesia”. Maio “será o mês previsto para a implementação do programa, que será dinamizada sobretudo pelos municípios e pelas juntas de freguesia”. Para “diminuir” os fogos, o Ministério da Administração Interna considera “vital a conjugação de esforços entre o Poder Central e o Poder Local”.

Origem
DN
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