Sociedade

O mistério do quadro do século XVII descoberto numa loja Oscar de la Renta em Paris

Um impressionante achado durante as obras para a nova Oscar de La Renta na capital francesa. Atrás da parede de um edifício do século XIX escondia-se uma grande pintura a óleo saída do século XVII.

Não é a primeira vez que trabalhos de restauro resultam na descoberta de preciosidades, longe disso. Há até casos recentes e bem próximos, envolvendo obras de expansão, como esse inesperado achado sob o restaurante Solar dos Presuntos. O episódio internacional mais recente e impressionante levou Vanessa Friedman, diretora de moda do The New York Times, a cruzar a história de dois mestres, o dos tecidos e o dos óleos. Porque, afinal, não é todos os dias que se descobre uma misteriosa pintura de generosas proporções atrás de uma parede de uma loja. Loja essa que deveria ter aberto por estes dias, mesmo a tempo da semana de alta-costura parisiense. Tudo porque não falamos de uma loja qualquer, mas sim daquela que deveria ser a mais recente morada da etiqueta Oscar de la Renta, que morreu em 2014.

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A história deste adiamento inevitável leva-nos, para já, a 2017, quando Alex Bolen, o chefe executivo da marca, viu num edifício na Rua Marignan o local perfeito para o novo espaço. As obras corriam como planeado, até que no verão passado Bolen recebe um telefone da sua arquiteta, Nathalie Ryan: “Fizemos uma descoberta”. “Tens que vir ver o que é”, insistiu Ryan, perante a reticência de Alex (a chamada anterior alertava para o eventual risco de colapso do prédio em questão).

O resto conta-se de uma penada. Bolen apanhou um avião de Nova Iorque para Paris, subiu ao segundo andar do edifício, e foi aí que soltou as três palavras que passamos a reproduzir: “Não é possível”. Mas era mesmo. Atrás de uma das paredes, a equipa responsável pelas obras e projeto deu de caras com uma impressionante pintura que recupera uma cena do século XVII e uma entrada na cidade de Jerusalém. “É muito rara e excecional, por diferentes razões”, apontou ao The New York Times Benoît Janson, um dos especialistas da equipa de restauro, a Nouvelle Tendance, e que supervisiona agora este quadro com “qualidade e tamanho histórico e estético”.

Quanto ao edifício, situado numa perpendicular da luxuosa Avenue Montaigne, remonta ao século XIX e sabe-se que se manteve nas mãos da mesma família, sendo que alguns membros ainda viviam nos andares superiores quando surgiu a hipótese de uma nova loja Oscar de la Renta se instalar aqui.

Foi durante os trabalhos que visavam ligar o primeiro e o segundo andar, e que envolviam demolições, que a pintura foi descoberta, algo que levou Alex Bolen a consultar os proprietários, que até então desconhecia, e a solicitar naturalmente a intervenção dos especialistas na matéria a fim de obter mais detalhes. Stephane Pinta, um perito em antigos mestres do museu do Louvre, deu o seu parecer. A obra, que retratará os trabalhos do marquês de Nointel, embaixador de Luís XIV na corte Otomana, terá sido criada em 1674 por Arnould de Vuez, artista que trabalhou com Charles Le Brun, o primeiro pintor do rei Luís e designer de interiores do famoso palácio de Versailles.

O acordo em cima da mesa é que a equipa chefiada por Bolen assegure o restauro da obra, e em contrapartida os proprietários do prédio permitem que a imponente peça se mantenha no interior da loja quando as obras estiverem concluídas — pelo menos durante uma década, o vínculo contratual inicialmente previsto entre as partes.

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