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Sete dos créditos de risco da Caixa tiveram perdas de 100%

Banco público teve um nível de imparidades na construção e imobiliário acima dos outros bancos portugueses.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) teve um maior nível de perdas com crédito na construção e imobiliário do que os outros bancos portugueses. E dos 46 créditos de risco identificados pela auditoria preliminar da EY, em sete, o banco público assumiu perdas totais.

No financiamento concedido a Manuel Fino, o banco público assumiu perdas de 138,3 milhões de euros. Também no fundo Jupiter, acionista da La Seda, a CGD assumiu uma imparidade total no empréstimo de 89,2 milhões de euros. E na Always Special, uma sociedade com ligações ao Grupo Lena, o financiamento de 44,3 milhões de euros também foi dado como totalmente perdido, segundo a auditoria preliminar da EY, divulgado pela comentadora Joana Amaral Dias e a que o JN/Dinheiro Vivo teve acesso.

Além dessas três entidades, houve outras em que a CGD assumiu uma imparidade (perda reconhecida no crédito) na ordem de 100%. Noutro dos grandes financiamentos, à AE Douro Litoral, a CGD assumiu uma imparidade de 80% no valor de 122,6 milhões de euros. Na Artlant, a fábrica da La Seda em Sines, que foi um dos empréstimos com maiores prejuízos para a CGD, a imparidade assumida foi de 60%, um buraco de 211,2 milhões de euros.

Perdas na construção

Face aos outros bancos portugueses, a auditoria preliminar da EY concluiu que a CGD assumiu imparidades bem maiores no setor da construção e imobiliário.

“O volume de imparidades da CGD evoluiu de 46,9% em 2013, para 58,1% em 2015”, é referido no documento da consultora. A EY detalha que “contrariamente, os restantes players apresentaram uma tendência de redução das imparidades ao setor da construção e imobiliário”. O BPI fechou 2015 com um nível de imparidade de 14,1% nesse setor. O Novo Banco com 28,8% e o BCP de 13,2%.

Nos empréstimos analisados pela EY foram detetados financiamentos concedidos com pareceres desfavoráveis das análises de risco, sem terem tido toda a informação exigível e sem as garantias reais necessárias em situações de maior risco.

Os créditos mais problemáticos foram concedidos entre 2007 e 2012, altura em que o banco foi liderado por Carlos Santos Ferreira, que sairia do banco público para o BCP, e Faria de Oliveira. O atual presidente da Associação Portuguesa de Bancos garantiu, numa entrevista à RTP, que nunca facilitou créditos.

Apurar responsáveis

A auditoria da EY foi pedida pelo Governo. O Ministério das Finanças esclareceu ontem que, “no âmbito do exercício da sua função acionista, deu instruções à CGD para que o relatório fosse remetido ao Banco de Portugal e ao Mecanismo Único de Supervisão do Banco Central Europeu, bem como a outras autoridades judiciais, de inspeção, de supervisão ou em matéria tributária”.

A auditoria não foi disponibilizada ao Governo por conter “informação sujeita a sigilo bancário”, argumentam as Finanças. Ainda assim, indicou que ” solicitou à Administração da CGD que fossem efetuadas todas as diligências necessárias para apurar quaisquer responsabilidades”, e que transmitiu à equipa liderada por Paulo Macedo “a necessidade de tomar as medidas adequadas para a defesa da situação patrimonial da CGD”.

BDP atento à informação

O JN/Dinheiro Vivo questionou fonte oficial da CGD sobre que medidas foram tomadas, mas não obteve resposta até ao fecho da edição.

Questionado sobre o que foi feito para prevenir situações semelhantes às detetadas pela auditoria preliminar da EY na CGD, o Banco de Portugal disse ter “em atenção toda a informação relevante para efeitos de supervisão prudencial”.

Nesta componente da vigilância, o Banco de Portugal avalia a adequação e idoneidade dos candidatos a administradores de instituições bancárias.

Os resultados da auditoria serão tidos em conta nessa análise. E poderão complicar a obtenção da autorização que tem de ser dada pelo supervisor a antigos responsáveis da CGD que pretendam desempenhar funções de administração em instituições bancárias.

Origem
JN
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