Política

As sete frases que explicam o Congresso socialista

Expresso

TIAGO MIRANDA

Críticas sobre corrupção, aulas sobre socialismo e até ataques ao próprio PS: assim se fizeram as declarações que marcaram um Congresso com pouca história

Não foi um Congresso em que se dissesse muito: as novidades foram poucas, os temas expectáveis, os protagonistas conhecidos. Mesmo assim, há frases que contam por si a história deste encontro socialista. Falam, sem falar, de Sócrates e da corrupção, mas também discutem a ideologia e o lugar do PS. E não deixam de fora a geringonça – para o bem e para o mal.

“NÃO VALE A PENA VARRER PARA BAIXO DO TAPETE O QUE NOS ENVERGONHA E ENRAIVECE”

É frase chave do discurso de Ana Gomes e a mais clara do Congresso sobre os casos de suspeitas de corrupção, em particular o de Sócrates. Até porque esta frase contém também palavras chave: a “vergonha” e a “raiva” foram os termos usados pelos dirigentes socialistas que começaram em maio a comentar os casos que envolvem Sócrates e Pinho. A eurodeputada não referiu nomes, mas deixou claro ao que se referia quando apontou que o PS “baixou as exigências éticas”. E exigiu mudanças, pedindo novas regras de transparência.

“É A VOSSA VEZ DE TRAVAR OS COMBATES”

Ferro quis passar o testemunho à nova geração que tomará conta do PS – e não fez mistério, especificando mesmo a quem se referia. Os escolhidos são sete: Pedro Nuno Santos, Mariana Vieira da Silva, Fernando Medina, Pedro Delgado Alves, João Galamba, Ana Catarina Mendes e Ana Mendes Godinho. A eles caberá, para o socialista e presidente da AR, tomar posição na linha da frente do PS. A julgar pelos aplausos que recebeu no Congresso, Pedro Nuno estará bem colocado nessa tarefa.

“NÃO ACEITAMOS QUE APAGUEM A MEMÓRIA [DO PS], QUE PROCESSOS JUDICIAIS SEJAM USADOS PARA A CRIMINALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS, OU PARA CULPAR PESSOAS POR LÓGICAS ABUSIVAS DE ASSOCIAÇÃO. ISSO É PRÓPRIO DE REGIMES TOTALITÁRIOS”

Ferro Rodrigues, parte dois: na sua intervenção, referiu-se aos casos de suspeitas de corrupção, mas para criticar tentativas de “apagar a memória” do partido ou de fazer julgamentos prematuros. De novo, uma possível referência aos casos de Sócrates e Pinho.

“ISTO NÃO É POPULISMO NEM RADICALISMO, É SER SOCIALISTA”

Foi a forma de rematar o debate sobre ideologia que tomou conta do PS nas últimas semanas: Pedro Nuno, associado à esquerda – até por ser o responsável pelas relações com a geringonça, da parte do PS, no Parlamento – fez a defesa dos trabalhadores e dos serviços públicos, dizendo que para isso não conta com a direita. E dizê-lo não é “radicalismo” nem “populismo”, garantiu: é só mesmo “ser socialista”.

“NÃO COMBATO NENHUM SOCIALISTA, COMBATO A DIREITA”

Foi apresentado como a cara da outra via, mais moderada e menos à esquerda, depois de ter escrito um artigo de opinião no “Público” sobre a sua visão para o PS. No Congresso, Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, quis deixar claro que não entra em combates com colegas de partido: o inimigo é só a direita.

“JÁ QUE NÃO POSSO ACREDITAR NA SOLUÇÃO, VOU ACREDITAR EM TI”

Ainda menos associado à ala esquerda do PS é Francisco Assis, um dos principais críticos da solução de Governo encontrada, o que tornava o seu discurso um dos mais antecipados. No Congresso, acabou por encontrar o meio-termo: assumiu as críticas à geringonça, mas garantiu que confia em Costa, cuja prestação como primeiro-ministro elogiou.

“O APARELHO PARTIDÁRIO CADA VEZ SE CONFUNDE MAIS COM O APARELHO DO ESTADO”

A denúncia foi feita pelo único opositor que desafiou a liderança de Costa, Daniel Adrião (teve 4% dos votos nas eleições para secretário-geral, este mês). É que se há dois anos (altura em que aconteceu o último Congresso nacional) o Secretariado Nacional do partido era um órgão praticamente sem membros do Governo, desta vez mais de metade dos membros do novo Secretariado Nacional do PS (oito em quinze) são ministros ou secretários de Estado. E, para Adrião, é uma das provas de que o PS precisa de se renovar e apostar na democracia interna – uma das suas reivindicações é a criação de um código de ética a adotar no partido.

Origem
Expresso
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