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Dentro do Altice Arena, a fazer nascer a Eurovisão

Diario Noticias

Uma manhã típica na Eurovisão começa na tenda junto à rampa dos artistas do Altice Arena, Parque das Nações, com os funcionários a passarem as suas acreditações pelos torniquetes, revista policial aos seus pertences e passagem pelo detetor de metais. Um pouco mais longe, na junta de freguesia, recebem-se os camiões com a carga que vai entrar no recinto. Uma vez registados, os carros são escoltados pela polícia até ao local.

Uma tenda branca, entre a Fil e o Altice Arena recebe todo o material. “Depois de descarregar a carga no chão ninguém lhe pode tocar. É revistada pela polícia e há cães pisteiros à procura de explosivos”, conta uma pessoa que já passou por estes procedimentos de segurança.

Dentro do Altice Arena, não entra comida nem água. E, a partir de hoje, não saem imagens do que se passa no recinto. Já estará pendurada a estrutura que vai formar essa espécie de esfera armilar, que remete para os oceanos e o tema escolhido para a 63ª edição da Eurovisão – All Aboard , todos a bordo.

Ao fundo da sala do Altice Arena, uma estrutura de madeira, em vários patamares prenuncia o que virá a ser aquele espaço onde os concorrentes se juntam à espera dos resultados e um dos pontos de reportagem da apresentadora Filomena Cautela. No 2.º balcão apurava-se a construção das cerca de 40 pequenas cabines destinadas aos comentadores.

A agitação começou no dia 4 de abril. O Altice Arena deu as chaves à RTP para, em nome da EBU (European Broadcasting Union), começar a montar a Eurovisão. É dos maiores acontecimentos – em ocupação do espaço (todo) e de número de dias que este local conheceu depois da Expo 98. Pela televisão são esperados 200 milhões de espectadores (e os direitos de transmissão foram vendidos para a China e para os EUA).

Um grupo pequeno desenhou o espetáculo. Gonçalo Madaíl, coordenador geral da Eurovisão; Nuno Artur Silva, então administrador da RTP com o pelouro da programação, “mas aqui como o criativo”; Carla Bugalho, que foi chefe de delegação portuguesa em anteriores edições da Eurovisão; os consultores Henrique Amaro e Nuno Galopim; Maria Ferreira, logística; João Nuno Nogueira, produtor executivo; e Paulo Resende, produtor executivo adjunto, encarregue do espetáculo. “Neste momento, do ponto de vista conceptual e editorial, o espetáculo está desenhado de fio a pavio. Está todo ele fechado”, diz Madaíl ao DN.

“Estamos a afinar o grafismo de broadcast, as peças que teremos ao longo do programa, as atuações convidadas juntamente com o trabalho de guião que depois cola as peças todas em torno do concurso”, segundo Madaíl. “A cerca de três semanas do evento estaremos a simular o programa de televisão. Já com peças, com genéricos, banda sonora, sonoplastia geral”.

Ao mesmo tempo, “estamos na preparação dos ensaios das 43 delegações, que nos estão a dizer o que pretendem, que tipo de staging e abordagem querem ter. Em poucos dias estaremos a fazer os primeiros ensaios com duplos para mostrar, ainda à distância, o que está a ser concretizado.”

Uma coisa é certa já: os cenários com led wall e vídeos ficaram para trás. Explica Gonçalo Madaíl: “Nós, enquanto organização, do ponto de vista cenográfico e artístico, impelimos os países e a preocuparam-se mais com o intérprete, a canção e o que ela deve emanar enquanto arte. A componente artística está a ser mais trabalhada, apesar de todos os dispositivos cenográficos que temos à disposição. Este espetáculo deve viver da música. É a pertinência da música que permitirá a continuidade da eurovisão como um sucesso”.

“O standard técnico é altíssimo, mas nós estamos a dar conta do recado”, assegura Madaíl. O primeiro ensaio aconteceu com a final do Festival da Canção, a 4 de março, em Guimarães, “talvez a maior produção de entretenimento que a RTP alguma vez fez”. Na manhã do dia 5 , Madaíl reuniu-se com o norueguês Jon Ola Sand, produtor executivo da Eurovisão. Correu bem “a todos os níveis”, diz Madaíl.

image.aspx?brand=DN&type=generate&name=original&id=9256838&source=ng-5aa47f57-0ace-47fb-a04a-6716e23dd73c Dentro do Altice Arena, a fazer nascer a Eurovisão

A ouvir as delegações

Artilhada com capacete e colete, como mandam as regras, Carla Bugalho, produtora executiva adjunta, abre as portas que nos levam à arena onde se vai conhecer o sucessor de Salvador Sobral. A produtora executiva adjunta da Eurovisão define assim o espetáculo: “São 43 mini-concertos de 3 minutos com 40 segundos de intervalo entre eles”. Esse é o tempo para modificar o que quer que seja necessário em palco. “Tudo tem de ser combinado ao pormenor com cada delegação para que quando chegam aqui à Altice Arena estejam o mais confortáveis possíveis com a performance”.

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Esta fase começou com uma reunião entre chefes de delegação, a 12 de março, em Lisboa. “Foi-lhes apresentado o projeto, a venue {recinto], o cenário, o dispositivo cénico e de iluminação, de câmaras…”, diz Carla Bugalho. ” Até essa altura foram partilhando connosco uma série de informações – o cantor, se tem bailarinos, coros, a canção, o vídeo – que nos permitem trabalhar a maneira com o se vão apresentar em palco”. Nessa fase são apresentados o produtor do concurso, o Christer Björkman, e o diretor da sala de visionamento, Mattias Carlssen com quem trocam ideias sobre o que vão levar para palco.

Os países sorteiam em que metade do espetáculo atuam, mas é a produção decide o momento no espetáculo. “Não vamos ter três baladas seguida. Se temos um adereço mais complicado de montar , vamos pô-lo a seguir a um break [intervalo]”, explica Carla Bugalho, antes voltar à base, os Production Offices, como anuncia o cartaz colado na porta. Uma sala longa repleta de mesas, com vista para um amplo espaço (ainda) vazio, onde vão ser montados 43 camarins. Chamam-lhe Delegation Bubble. Começam a chegar no dia 28.

É preciso passar pela produção técnica, logística, concurso, show e o Ol” ó feime, a parede carregada de fotografias divertidas da equipa com a contagem decrescente para o evento, até chegar a Nuno Galopim, uma enciclopédia da Eurovisão e supervisor criativo do Festival, bem perto da ilha do poder, a do produtor executivo João Nuno Nogueira e de Ola Melzig, chefe de produção.

Galopim trabalha o guião com Pedro Miguel Ribeiro, ator-humorista-argumentista, e Lucy Pepper, “que assegura que o inglês está bem escrito”, diz e, como consultores, os atores Pedro Penim e Pedro Granger. Começaram a 5 de março e já está pronto. “O guião tem de expressar a identidade portuguesa, unir as canções e lançar momentos de descompressão” , resume. “Estamos a trabalhar com as quatro apresentadoras para que cada uma expresse a sua personalidade”, afirma. Catarina Furtado, Sílvia Alberto, Daniela Ruah e Filomena Cautela já começaram a ensaiar o texto.

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Cá fora, grades cobertas com o símbolo da Eurovisão fazem um perímetro de segurança. É aí que encontramos Gonçalo Madaíl, coordenador geral da Eurovisão, sempre com um pé no Parque das Nações e outro na marechal Gomes da Costa, sede da RTP. “Tenho também a incumbência de gerir a programação que a RTP1 vai fazer em torno da Eurovisão, para lá do que é o espetáculo internacional. Alguém tem de fazer a ponte”, refere. Um magazine diário “clássico” nas três semanas que antecedem a final e reportagens nos programas A Praça e Agora Nós, com a repórter Vanessa Oliveira, com quem o DN se cruza nos escritórios da produção.

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Multiplicando a lotação de 11 300 pessoas da Altice Arena pelos 9 espetáculos, mais de 100 mil pessoas deverão passar pelo Parque das Nações nestes dias. Sem contar com o milhar de participantes, os 1560 jornalistas acreditados e os mil funcionários, incluindo os voluntários que a RTP chamou e motivo de contestação. Madaíl garante que “estão a funcionar dentro das regras do voluntariado”. Temos várias entidades que nos apoiam, como IPDJ [Instituto Português do Desporto e Juventude]. Isto é um treino e oportunidade de convívio, com uma responsabilidade muito reduzida quando comparada com o staff oficial, para estes jovens que vão trabalhar com as delegações no sentido de lhe dar apoio emocional e conforto, assistindo a um espetáculo com estas limitações de bilheteira”.

Madaíl garante que a fase de nervos passou. “Quando não temos todas as soluções do ponto de vista criativo, do ponto de vista conceptual, o stress está aí, ainda na folha em branco”. Neste momento, “a ideia é que se pressinta que há aqui uma organização que não se faça sentir. Se as pessoas falam pouco umas com as outras é bom sinal, quer dizer que estão combinadas”.

Origem
DN
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