Política

PSD. Uma guerra de nervos com incertezas e aparelho dividido

“Parece que estamos a lidar com um bando de cobardes”, diz Mota Amaral ao i, pedindo votação nominal da moção a favor de Rui Rio

A tensão no PSD aumenta à medida que se aproxima a reunião do conselho extraordinário para votar a moção de confiança para a comissão política de Rui Rio. Os seus críticos e apoiantes de Luís Montenegro querem o voto secreto “em nome da liberdade individual” e contam que esta solução acautele uma derrota de Rio, com o chumbo da moção, abrindo caminho a eleições diretas, tal como o antigo líder parlamentar, e challenger do presidente social-democrata, pretende para concorrer à liderança.

Mas, o caminho está longe de ser pacífico, com muita pressão dos dois lados da barricada e há um dado novo a favor de Rio.

O antigo presidente do parlamento, Mota Amaral, está ao lado do presidente do PSD, e vai defender amanhã, no encontro, uma votação nominal da proposta. Na prática, esta versão obrigará cada conselheiro a assumir o voto, de braço no ar, ou sinalizando a sua decisão, à medida que o seu nome fosse chamado. “Quero que seja um voto nominal”, defendeu Mota Amaral ao i, depois de ter assumido ao Observador a sua intenção. Ao i, Mota Amaral considera ser “uma vergonha” toda a discussão em volta do voto secreto. “Parece que estamos a lidar com um bando de cobardes”, acrescentou Mota Amaral, argumentando que as pessoas que pretendem o voto secreto parece “que têm medo de assumir as suas responsabilidades”.

De realçar que o antigo presidente do parlamento tem direito de voto e apoiará a moção de confiança de Rio. Mais, esta proposta dará lastro às intenções da direção do presidente do PSD para identificar os críticos e responsabilizá-los. E se Rio vencer a contenda, com a “relegitimação” da sua equipa, então, terá espaço para minimizar a oposição interna.

Pedro Alves, líder da distrital de Viseu, não se conforma com a proposta de Mota Amaral, e defende que a ideia “não está prevista nos estatutos” e será “mesmo um equívoco”. O dirigente, que tem defendido o voto secreto na moção e dirige uma distrital onde Montenegro colhe bastantes apoios, deixa um repto a Rui Rio, sustentando que o líder do partido “será a primeira pessoa a querer que esta situação não aconteça no partido” e se possa tomar a decisão de forma “livre”. No limite, o dirigente admite que “se possa recorrer aos tribunais”.

De Setúbal, o líder da distrital nem quer ouvir falar em votações de braço no ar. “Não me digam é que o voto é de braço no ar”, insistiu ontem Bruno Vitorino ao i, acrescentando que “o Dr. Rui Rio não tem de se preocupar com quem lhe diz as coisas frontalmente”.

Por seu turno, Luís Montenegro considerou ontem na CMTV que a votação de braço no ar “é típico de partidos comunistas”, considerando ainda que Rio dividiu o partido no seu primeiro ano de mandato e que o PSD arrisca um desastre eleitoral, mantendo a atual estratégia.

Do lado da direção, que amanhã será alvo de votação, o secretário-geral do partido, José Silvano, considera ser indiferente a votação de braço no ar ou secreta, mas deixou o aviso: “Será que as pessoas não têm convicções? Isto não é um conjunto de militantes anónimos, que podem ser influenciados. São os dirigentes nacionais deste partido. Não consigo perceber”, desabafou ao i.

Com o debate a subir de tom por causa do conselho nacional (CN), o presidente da mesa do CN, Paulo Mota Pinto, insistiu que o encontro só poderia ser marcado amanhã pelas 17 horas, porque o congresso regional do PSD/Madeira decorrerá no fim de semana E ontem, o deputado Ulisses Pereira também recebeu a resposta do líder parlamentar, Fernando Negrão, depois do apelo para que pedisse a alteração da hora. A resposta foi a de que poderá sempre justificar a falta com trabalho político. “Gostaria de dizer que estou há tempo suficiente no parlamento para saber como se justificam as faltas”, afirmou Ulisses Pereira na resposta.

Na guerra para garantir apoios de um lado e do outro, há quem já se tenha comprometido com Rio e Montenegro, há folhas excel a circular para avaliar apoios e nas distritais o aparelho está muito dividido. Em Aveiro, por exemplo, um comunicado do líder da distrital, Salvador Malheiro, um dos vices de Rio, gerou acusações de “abusivo” por não espelhar a posição da comissão política alargada daquela estrutura, uma vez que não houve votação às críticas contra Luís Montenegro. Mas a distrital nega qualquer abuso na análise do encontro e assegura que até houve unanimidade no apoio a Rio na comissão permanente da distrital.

Origem
Jornal i
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