Tecnologia

Facebook e Google debaixo de fogo. De escândalo em escândalo, até à derrocada final

Muito se tem debatido a questão da privacidade e dos dados pessoais, depois de se saber que as gigantes tecnológicas guardam e partilham informação sem consentimento. Mas as polémicas continuam

Nos últimos tempos, muito se tem falado e discutido a questão da privacidade e das consequências da tecnologia na nossa vida. O verniz voltou a estalar quando, há poucos dias, se ficou a saber que a Google guarda a localização dos utilizadores mesmo quando estes não o autorizam.

Até pode dizer que não quer usar os serviços de localização, mas não vai levar a melhor. Ao que tudo indica, a Google está mesmo determinada em conhecer a localização dos utilizadores, com ou sem consentimento.

A notícia foi avançada pela Associated Press, que concluiu que estes dados ficam registados mesmo que os utilizadores tenham manifestado de forma explícita a sua oposição. A agência noticiosa destaca ainda que, de acordo com a empresa, em teoria, qualquer utilizador pode suspender a ferramenta de localização. No entanto, a Associated Press garante que, mesmo com a Location History suspensa, algumas aplicações continuam a conseguir guardar de forma automática os dados da localização dos utilizadores. A agência destaca o que acontece, por exemplo, com as aplicações de mapas, atualizações diárias da meteorologia e ainda o uso do próprio motor de busca.

Já antes, no início de julho, os problemas de segurança tinham feito correr muita tinta. A Google chegou mesmo a confirmar que pessoas de empresas terceiras têm acesso a mensagens do seu serviço de correio eletrónico, ferramenta de identificação e autentificação vital para os utilizadores da internet. A confirmação surgiu depois de o “Wall Street Journal” ter noticiado que há empresas de aplicações cujos funcionários admitem ter lido “milhares” de mensagens privadas dos utilizadores que têm conta no serviço de correio eletrónico da empresa. A Google foi rápida a evidenciar que se trata de uma prática que não vai contra as suas políticas de privacidade, mas este é um procedimento que levantou, desde logo, dúvidas e revolta, apesar de a tecnológica reiterar que são as pessoas a autorizar este acesso quando fazem a associação da conta de correio eletrónico ao prestador de serviços externos.

Recorde-se que as empresas ligadas à tecnologia têm estado na mira de muitas críticas, depois de se verem envolvidas em várias polémicas. Tanto a Google como o Facebook viram-se mesmo a braços com várias ações judiciais por causa de práticas que põem em causa os direitos dos utilizadores.

O Facebook e os escândalos

Não falta quem defenda que a História costuma repetir-se. E o caso do Facebook vem provar isso mesmo. A polémica em torno da Cambridge Analytica, suspeita de ter usado indevidamente dados de largos milhões de utilizadores desta rede social, deu cabo de uns bons milhões de euros da empresa e deixou muitos investidores sem confiança na rede social. Agora, uma outra campanha pretendia influenciar as eleições de novembro nos EUA. A informação começou por ser avançada pelo “New York Times” e o Facebook acabou por confirmar. Com as eleições intercalares a aproximarem-se, a rede social liderada por Mark Zuckerberg diz ter identificado dezenas de contas falsas e admite tratar-se de uma campanha coordenada de influência política. Para o Facebook, não restam dúvidas de que as contas estavam a ser geridas por pessoas envolvidas em atividades políticas em torno de questões sociais fraturantes.

O comunicado evidencia que, desde maio do ano passado, as páginas em questão conquistaram cerca de 290 mil seguidores, criaram cerca de 30 eventos e fizeram 150 anúncios. No total, estas campanhas de promoção custaram 11 mil dólares (cerca de 9400 euros). Com tópicos de base como o incentivo a ser negro ou ao ativismo feminista, a rede social diz não existirem dúvidas de que estas páginas visavam incendiar os ânimos e criar divisões cada vez maiores. A rede social promete agora investigar se existem mais contas deste género e continuar com a investigação sobre os perfis que foram apagados.

Recorde-se que quanto à suspeita de que os dados teriam sido usados para influenciar votos de eleitores a favor de Trump se juntou a acusação de que o mesmo teria acontecido no referendo do Brexit, Mark Zuckerberg pediu desculpa, mas não convenceu nem os utilizadores nem os investidores, e menos ainda as autoridades. Muitos apagaram as contas, alguns investidores decidiram avançar para tribunal e a questão da proteção de dados pessoais ganhou dimensão.
Em fevereiro falar, do Facebook era falar da quinta empresa mais valiosa dos EUA, com uma valorização bolsista que excedia os 400 mil milhões de euros. Mas a polémica em torno da Cambridge Analytica arruinou mais de 100 mil milhões.

A informação de que os dados de vários utilizadores teriam sido utilizados de forma indevida e sem consentimento levou mesmo à criação de um movimento que apoia o abandono desta rede social.

Toda a polémica levantou velhas questões em relação ao tema da privacidade e à forma como as informações pessoais são usadas. Muitos utilizadores descobriram que o Facebook guardou até mensagens e chamadas, mas não é só a rede social que tem acesso à informação. Há aplicações que têm acesso a tudo e nem todos têm ideia das permissões dadas.

O escândalo da Cambridge Analytica veio pôr preto no branco o que já se sabia: dados valem dinheiro e votos. A informação de milhões de pessoas foi usada sem permissão e percebeu-se, como nunca, que os utilizadores nem sempre sabem a informação a que estão a dar acesso e a quem. Quando, por exemplo, muitos começaram a carregar nas definições e a ver as apps perceberam que desconheciam ter aplicações associadas à conta desta rede social. Mas tinham. Também não sabiam a que dados estavam a dar acesso.

Uma petição pública, por exemplo, dá acesso ao e-mail, cidade, idade, entre outros dados. Mas existem outras aplicações que dão acesso a listas de amigos (a maioria), fotos, vídeos e eventos e algumas até têm permissão para publicar em nome do utilizador. Sabendo que os dados valem dinheiro, é importante recordar ainda que o Facebook é dono de aplicações que não podiam ser mais populares: o Messenger, o WhatsApp e o Instagram.

Origem
Jornal i
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