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“A única diferença é não haver visitantes”. No Zoo de Lisboa só os humanos foram obrigados a adaptar-se à pandemia

A vida no Jardim Zoológico de Lisboa em tempo de pandemia continua com toda a normalidade para os cerca de dois mil animais que nele habitam, tendo sido os humanos os únicos a fazer alterações nas suas vidas.

Em declarações à Lusa, o curador dos mamíferos, José Dias Ferreira, explicou que o dia-a-dia no Zoo tem sido “em tudo exatamente igual” no tratamento das cerca de 300 espécies de animais que vivem no Jardim, entre mamíferos, aves, répteis e anfíbios.

“Temos prestado todos os cuidados que estes animais sempre receberam não só em alimentação, limpeza e maneio em geral. Tudo tem sido feito como sempre foi, não há alterações em dietas, em nada. A única diferença foi a divisão dos turnos [dos tratadores] em dois”, avançou o responsável.

Agora, de portas fechadas ao público devido à pandemia covid-19, de 14 em 14 dias muda no Zoológico a equipa de 30 tratadores, em cada turno, responsável pela alimentação e limpeza dos espaços, sendo que, de acordo com José Dias Ferreira “para os animais e funcionários não falta absolutamente nada”.

Segundo o curador dos mamíferos, “os animais não sentem diferença por não terem público”, pelo menos, “neste momento”, lembrando que foi tido o cuidado de manter as mesmas equipas que lidam com aqueles diariamente.

“A única diferença que há para os animais é não haver visitantes, não temos notado grandes diferenças no comportamento deles”, afirmou, reconhecendo que o mais importante para os animais foi acautelado: “manter o maneio, o grupo de tratadores que trabalha com eles e a alimentação”.

José Dias Ferreira salientou que houve “algumas adaptações” ao maneio com os animais já existente, onde se assinala o aumentar das desinfeções diárias, “que sempre se fizeram, mas agora são com mais frequência”.

Também o contacto com os animais se restringe agora ao mínimo possível, sendo só feito em situações onde é precisa alguma intervenção a nível veterinário, “sempre protegidos com máscaras e luvas”.

Há também o caso das ilhas dos primatas, onde os tratadores entram para dar comida, sempre com a distância e cumprindo todas as regras de proteção, como a reportagem da Lusa assistiu e também o caso das suricatas, que sentem ao longe quando a tratadora vem a caminho com a pequena caixa de comida com uma espécie de minhocas envoltas em farinha.

Não querendo entrar em grandes pormenores financeiros, José Dias Ferreira avançou que, sem bilheteiras e mantendo os custos fixos iguais em termos de encargos salariais, de alimentação dos animais e contas de eletricidade e água, torna o “processo muito mais difícil”, reiterando que, neste momento, “aos animais não falta nada”.

Apesar de os animais não verem crianças a correr ou a gritar na sua direção espantadas com os seus portes e cheiros, o curador dos mamíferos adiantou também que o dia-a-dia para estes permanece na mesma, dando como exemplo os nascimentos que continuam a acontecer.

“Há 15 dias nasceram suricatas. Neste caso não há qualquer alteração, há nascimentos com visitantes e sem visitantes”, reconheceu.

“Tudo igual, nós [humanos] é que fizemos alterações na nossa vida”, afirmou.

Também o Centro Pedagógico do Zoo sofreu alterações, conforme explicou a sua coordenadora, Antonieta Costa, referindo que assim que a instituição encerrou portas aos visitantes “tiveram de se reinventar”.

“A verdade é que tivemos de nos reinventar para levar a nossa mensagem de conservação até às famílias, pais, alunos e professores para que o Jardim Zoológico estivesse nas suas casas”, dado que não pode por estes dias ser visitado.

De acordo com Antonieta Costa, o mais fácil foi adaptar os ‘workshops’ de educação ambiental, com temáticas ligadas à conservação da biodiversidade.

 Inicialmente, tratava-se de “sessões de oito horas para um público adulto, universitários”, passando agora “a 40 minutos disponíveis na plataforma Zoom” e com conteúdos e discursos adaptados a famílias.

“Foi feita toda uma adaptação na programação para que as famílias pudessem aceder e compreender os nossos programas”, explicou Antonieta Costa, adiantado que tiveram “mais de três mil participantes, tendo em conta as limitações de participações do zoom”.

Outro sucesso foi também o projeto das “férias selvagens online” [o Zoo tem atividades durante as férias escolares para crianças até aos 16 anos], tendo sido disponibilizados todos os dias atividades online para crianças entre os 3 e os 16 anos.

“Tivemos imenso sucesso, cerca de 26 mil participantes e, sabemos porque estes nos enviaram por email, atividades que fizerem em casa juntamente com as famílias”, afirmou.

Agora que as escolas continuam suspensas, Antonieta Costa avançou que o Centro Pedagógico lançou um programa do zoo em casa “para escolas e para complementar o trabalho dos professores online e alunos”, sendo que todos os dias da semana será lançada uma sessão, desde o ensino pré-escolar até ao secundário.

Inaugurado em 1884, o Jardim Zoológico de Lisboa foi o primeiro parque com fauna e flora da Península Ibérica, tendo tido diversas casas até conhecer a sua ultima morada, a Quinta das Laranjeiras, em Sete Rios, cuja inauguração data de maio de 1905.

Conforme é referido na sua página online, Zoo assumiu como “missão desenvolver e promover um parque zoológico e botânico, como um centro de conservação, reprodução e reintrodução de espécies em vias de extinção, através da investigação científica e de programas de enriquecimento ambiental”.

Origem
Sapo24
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