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Caixa só soube que tinha concedido 4,6 mil milhões para ações em 2008

Ex-administrador do banco público, Norberto Rosa, garantiu que não haviam dados agregados, daí a falta de informação.

O ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Norberto Rosa, revelou que só em janeiro de 2008 é que o banco público percebeu que tinha concedido 4,6 mil milhões de euros de crédito para adquirir ações. De acordo com o responsável, esta falta de informação está relacionado com o facto de não existir dados agregados e, como tal, sempre que era concedido crédito “não se sabia quais eram os colaterais subjacentes”, revelou aos deputados, na sua audição na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da CGD. 


Norberto Rosa disse ainda que esse levantamento de concessão de crédito começou a ser feito quando se começou a assistir à “crise grave na bolsa”. Ainda assim, afirmou que esse valor foi reduzido para 2,9 mil milhões até 2012, considerando que “o risco de mercado era elevado” nestas operações. Mas na sua intervenção inicial, o ex-administrador da CGD tinha afirmado que as contas do banco “sempre refletiram de forma adequada” o que se passava na instituição financeira e sempre foram aprovadas por auditores internos e externos.


A questão surgiu pela voz da deputada do PS Constança Urbano de Sousa, que questionou Norberto Rosa sobre o crédito de 350 milhões de euros concedido à Fundação José Berardo para aquisição de ações do BCP. Em resposta, o ex-administrador do banco público afirmou que o contratualizado com a Fundação do empresário conhecido como Joe Berardo foi para “financiar dívida junto do BCP e para a aquisição de diversas ações”, nomeadamente “dos principais índices europeus”, que “tinham de ser autorizada pela CGD”.


Norberto Rosa confirmou também que o aval pessoal do empresário foi dispensado mediante a apresentação das contas da Fundação José Berardo, e que foi aprovada uma autonomia financeira de 20% à entidade, “um aspeto muito importante” em termos de reforço da posição da CGD. No entanto, lembrou que “não tinha e não teria obrigação de ter um conhecimento tão profundo de cada caso em análise” no relatório da EY, uma vez que não tinha “responsabilidade nas áreas comerciais e de risco de crédito”.


O responsável deixou também fortes críticas ao trabalho da EY na auditoria aos atos de gestão na CGD entre 2000 e 2015. Uma das acusações diz respeito ao facto de a auditora não ter permitido que fosse exercido o direito ao contraditório e ainda a amostra das operações de crédito usadas no relatório. 

Comissão vai ser prolongada Os trabalhos da segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da Caixa Geral de Depósitos vão ser prolongados por 40 dias. A comissão foi aprovada no parlamento em 15 de fevereiro, com votos favoráveis de todos os partidos e abstenção de PCP, Os Verdes e do deputado independente Paulo Trigo Pereira e foi dada posse pelo presidente da Assembleia da República a 21 de fevereiro. Nessa altura, Ferro Rodrigues expressou o desejo de que a nova comissão fosse “mais longe” no apuramento de factos do que a anterior.
Na reunião de ontem, os deputados tomaram também conhecimento do envio da transcrição da audição de 10 de maio ao empresário José Berardo.

Origem
Jornal i
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