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Corpo de Luís Grilo foi encontrado perto da casa da família, em Avis

Família da mulher é de Benavila. Não queriam acreditar quando souberam que o corpo encontrado era o do atleta amador, que por vezes andava de bicicleta naquelas bandas. Dizem que crime terá acontecido noutro local. Tio da mulher foi ouvido pela polícia.

“Não vou já para casa. Encontrei um homem morto.” Foi assim, de chofre, que Luís Martins contou à mulher, pelo telemóvel, a descoberta que fizera. Pouco passava das oito e meia da manhã da passada sexta-feira. Luzia, em choque, lembra-se do que respondeu: “Sabes lá se é um homem. Encontraste uma pessoa morta, foi isso?”, como se tentasse ganhar distância da notícia, incomum, e ainda mais naquelas paragens.

Covões é um lugar isolado, a poucos quilómetros de Santo António de Alcórrego, junto a Avis, em pleno Alentejo. O marido ripostou. “Sei que é um homem porque o vi. Está nu, com um saco preto do lixo enfiado na cabeça.”

Foi assim que a GNR o encontrou, tendo chegado ao local logo por volta das 09.00, uma estrada de terra batida, no meio de um eucaliptal. Na altura, ainda ninguém sabia que o cadáver era o de Luís Grilo, o engenheiro informático de 50 anos que estava desaparecido desde o dia 16 de julho – há 39 dias -, a mais de 140 km dali, em Vila Franca de Xira, onde morava e para onde não voltou depois de uma corrida de bicicleta.

Isto apesar de o atleta amador não estar num local que lhe fosse completamente estranho. Praticante de triatlo – natação, corrida e ciclismo, e na sua modalidade mais radical do Ironman -, treinava por vezes naquela zona, já que a terra dos pais da mulher é Benavila, que fica a 20 km de distância da estrada onde foi encontrado morto.

E foi a Benavila, antiga freguesia de Avis, a 20 quilómetros de distância de Covões, à casa do tio de Rosa Grilo, mulher do atleta desaparecido, que chegou rápido a notícia de que tinham encontrado “um homem morto junto aos eucaliptos” – já se notava o aparato policial, quando a PJ foi chamada às perícias no terreno. Mas nem nessa altura, garantem, Isaltina Pina ou a filha, que também é afilhada de Rosa Grilo, se lembraram de relacionar as coisas. Tinham sabido do desaparecimento quando Rosa publicou a notícia no Facebook e tinham esperança de que fosse encontrado, mas vivo.

Ia de vez em quando para a casa dos sogros

A Benavila, à casa dos sogros, Luís Grilo ia de vez em quando, sempre com a mulher e o filho, um menino de 12 anos. E por vezes treinava por ali com a sua bicicleta. “Ele era tão alegre, sempre bem-disposto, a fazer piadas“, recorda Isaltina. A personalidade de Luís não condiz com o que lhe aconteceu, não havia problemas na família, garantem os familiares próximos, nem de dinheiro nem zangas familiares, dizem.

Dar-se-ia a hipótese de ter ali estado no dia do desaparecimento? Não, afirmam. Sempre que iam a Benavila, onde Rosa cresceu, os familiares tinham conhecimento. “Ficavam em casa dos meus sogros, sou eu quem tem a chave. Vinham para aqui para descansar da confusão da cidade. Esta terra é uma calmaria“, sublinha a tia de Rosa Grilo.

A pacatez de Avis, e ainda mais de Benavila, é razão para que todos – familiares, autoridades e populares – em coro afirmem: “Não, ele aqui não foi morto. Trouxeram-no para aqui.” A razão desconhecem, mas ali não lhes parece sítio de homicidas.

“É uma população muito idosa. Não me lembro de um caso assim”, diz um agente da GNR de Avis. Nem ninguém, razão pela qual uma notícia destas se alastra como fogo em palha. E por isso o tio de Rosa Grilo foi ter a Covões, ainda na manhã em que o corpo foi encontrado, quando “alguém lhe lembrou que o sobrinho ainda estava desaparecido“, recorda Isaltina, o desgosto misturado com o choque. Era ele. A Polícia Judiciária falou com o marido, que acabaria por nem ver o corpo.

Quantos dias escondido no meio dos eucaliptos?

O corpo, garante Luzia Martins, não tinha marcas de violência, nem estava em “avançado estado de decomposição”, como depois se diria nas notícias. “O meu marido disse-me que estava era muito seco, por ter estado tantos dias ao sol, provavelmente.” A GNR corrobora a versão.

Luís Martins contou tudo o que viu à mulher, sobretudo para explicar o que nestas coisas de coincidências há sempre de inexplicável: “o pensamento” que o levou a desviar caminho e ir por um sítio que nunca fizera. “Ele é de Covões, cresceu ali, passou pela estrada de terra batida e pareceu-lhe que tinham andado lá carros. Foi ver onde dava a estrada. Quando desceu não viu nada, mas quando voltava, a subir, olhou para a esquerda e foi quando viu o corpo. Achou que era um animal. Viu então o homem, nu, de braços abertos e barriga para cima”, conta Luzia. “É que para ali ninguém vai, é um sítio que não tem nada“, acrescenta a dona da mercearia em Santo António de Alcórrego, enquanto ao lado todos abanam a cabeça. Não conheciam Luís Grilo, mas todos sabem que o cadáver era dele, “do ciclista”.

“Crime violento”, considera a Polícia Judiciária, que já interrogou Rosa Grilo. A mulher de Luís trabalha na empresa de informática do marido, mas a família de Benavila ainda não falou com ela, garantem. “O que ela mais deve ter é gente à volta dela”, dizem afilhada e tia. A bicicleta preta e vermelha com que terá saído de casa, em Cachoeiras, uma aldeia de poucas casas em Vila Franca de Xira, ainda não foi encontrada. Só o telemóvel, atirado, dizem, para uma ribanceira a poucos quilómetros de casa.

Apareceu dois dias depois de a mulher ter ligado para a GNR de Castanheira do Ribatejo a dar conta de que o marido não voltara para casa para levar o filho à natação, como combinado. Amigos e familiares percorreram centenas de quilómetros à volta dos locais onde Luís Grilo costumava pedalar. Fizeram-se cartazes, puseram-se alertas na internet. Ninguém se lembrou de procurar em Benavila. “Não fazia sentido”, dizem os familiares da freguesia de Avis. Se fazia ou não, a resposta estará agora a ser descoberta pela Polícia Judiciária.

Origem
DN
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